A Importância da Adversidade na Formação do Indivíduo: Uma Reflexão Sobre as Caixas em que nos Colocamos
Nos dias de hoje, é evidente que muitas pessoas desejam categorizar-se em diferentes caixas: sexuais, como demi, eco, pan; psicológicas, como TDAH, autista, borderline, disléxico. Essa necessidade de rotular-se também pode refletir uma busca por justificação e terceirização do comportamento de cada um. Será que ao nos encaixarmos em rótulos, estamos evitando assumir a responsabilidade pelo nosso próprio jeito de ser?
Antigamente, o que hoje chamamos de bullying era visto como uma forma de incentivo para que o indivíduo se desenvolvesse. Aqueles que eram alvo do bullying se sentiam desafiados a melhorar, a correr atrás do que tinham perdido. Mesmo os indivíduos com dislexia, por exemplo, quando zombados, persistiam e conseguiam superar as adversidades.
Certamente, traumas aconteciam, mas contribuíam para forjar a resiliência do ser humano, preparando-o para enfrentar futuras dificuldades. A vida, por sua própria natureza, nos confronta com desafios e precisamos aprender a lidar com eles desde cedo.
Quando as adversidades não são enfrentadas na infância, perdemos a oportunidade de desenvolver habilidades essenciais para lidar com as complexidades da vida. Por exemplo, não aprendemos a lidar com colegas de classe que nos apelidam por características incomuns, com aqueles que são agressivos ou com os que nos excluem por não termos nada em comum. Essas são situações que enfrentaremos ao longo de toda a vida.
Atualmente, há uma tendência de negar ou minimizar as dificuldades, promovendo uma visão excessivamente positiva da vida. No entanto, ao fazer isso, privamos as crianças de aprenderem a se defender e a lidar com as adversidades naturais da existência. É importante reconhecer que somos seres humanos com instintos, e reprimir esses instintos pode levar a consequências negativas, como explosões emocionais.
Muitas pessoas estão enfrentando dificuldades emocionais porque não aprenderam a aceitar sua própria natureza e personalidade. Em vez disso, buscam justificativas externas, colocando-se em caixas predefinidas para se isentarem da culpa. No entanto, isso apenas alivia temporariamente a pressão interna.
A psicanálise, representada por figuras como Winnicott, já alertava para os perigos da permissividade na criação das crianças desde os anos 70. Os pais, com sua experiência, têm o papel crucial de impor limites e guiar o desenvolvimento saudável dos filhos. No entanto, muitos estão falhando nesse aspecto, seja por culpa da própria ausência ou por influência de uma cultura que rejeita a ideia de correção disciplinar.
Em última análise, precisamos reconhecer que não somos perfeitos e que as adversidades são parte inevitável da vida. Colocar-se em caixas e buscar desculpas externas não nos libertará das dificuldades que enfrentamos. É fundamental aprender a aceitar nossas imperfeições e a lidar com elas de maneira construtiva, ao invés de buscar refúgio em rótulos pré-determinados.