Uma Análise Psicanalítica sobre a Fragilidade e a Resistência à Responsabilidade em Jovens Adultos


Resumo

Este artigo explora, sob a ótica psicanalítica, as razões pelas quais jovens adultos na faixa dos 25/30 anos podem demonstrar fragilidade, resistência à responsabilidade e uma aparente aversão a enfrentar problemas. A análise sugere que esses padrões de comportamento podem estar enraizados em dinâmicas familiares complexas, marcadas por relações entre mães, avós e filhos, assim como na falta de estímulos para lidar com frustrações durante o desenvolvimento.

Introdução 

O fenômeno observado nos jovens adultos contemporâneos, caracterizado por uma relutância em assumir responsabilidades e enfrentar desafios, é um ponto de interesse crucial na perspectiva psicanalítica. Este artigo busca explorar possíveis raízes psicológicas desses comportamentos, destacando a influência de padrões familiares e as implicações dessas dinâmicas no desenvolvimento individual.

Dinâmicas Familiares e Influências Psicanalíticas

A primeira hipótese examinada é a presença de padrões familiares específicos, notadamente a relação entre mãe, avó e filho. A coabitação de diferentes gerações pode resultar em uma dinâmica complexa, onde a avó, por exemplo, pode exercer uma influência excessivamente permissiva sobre o neto. A mãe, então, encontra-se em uma posição delicada, sendo desafiada pela avó, o que pode resultar na perda de sua autoridade parental.

Quando apenas o pai saía para trabalhar e a mãe ficava em casa cuidando dos filhos, era comum que ela assumisse a maioria das responsabilidades domésticas. Entretanto, as crianças tinham suas pequenas tarefas atribuídas, como lavar louça, tirar o pó e arrumar a sala ou quarto. Nessa dinâmica familiar, muitas vezes as mães precisavam ingressar no mercado de trabalho durante a adolescência dos filhos, cabendo a estes a responsabilidade de deixar as coisas minimamente limpas e arrumadas para a chegada dos pais. Isso incluía, em diversas situações e de acordo com a idade do adolescente, até mesmo a preparação de refeições, além da supervisão dos irmãos.

Essa família não se enquadrava no padrão ideal, pois os pais raramente dialogavam com os filhos, vivendo numa época marcada por pudores. Os adolescentes, por sua vez, buscavam conhecimento na rua, junto a irmãos mais velhos ou amigos.

Com o tempo, surgiu uma geração de mães solteiras adolescentes, muitas delas desprovidas de informações e sem orientação adequada por parte de suas próprias mães. Essas jovens mães assumiram a maternidade com o suporte dos pais porém sem uma estrutura familiar bem fundamentada, que, devido à imaturidade, muitas vezes abandonavam essa responsabilidade. Mesmo aquelas que se casavam, além de lidar com a falta de maturidade para encarar a gravidez e a criação de filhos, acabavam morando com os pais de um dos cônjuges.

As mães solteiras que não casavam permaneciam na casa dos pais, resultando em dinâmicas familiares diferentes. Essa modificação, por sua vez, pode ter sido o ponto de partida para os problemas observados na atualidade.

A dinâmica específica de filha com a mãe e avó com neto emergiu, com a filha saindo para trabalhar, possivelmente a avó também, enquanto a criança frequentava creche ou escola. O dilema surge quando a avó, aposentada ou não, assume uma postura superprotetora, privando os netos de autonomia. Se essa convivência é frequente, a interferência da avó pode prejudicar o desenvolvimento saudável das crianças.

Quando a mãe retorna do trabalho e tenta impor regras ou responsabilidades às crianças, a avó intervém em sua defesa. Nesse cenário, a criança opta pelo caminho mais fácil, desenvolvendo uma preferência pela avó e um desagrado pela mãe.

A presença ocasional do pai, muitas vezes adorado e privilegiado, contrasta com a mãe, que assume o papel de estabelecer limites e impor regras. A batalha entre a mãe e a avó pelo controle da autoridade cria um ambiente onde a mãe precisa lidar não apenas com a educação dos filhos, mas também com a imposição da avó.

Essas dinâmicas familiares complexas e a falta de orientação adequada podem ser fundamentais para entender por que os jovens adultos contemporâneos têm dificuldades em lidar com frustrações, executar tarefas cotidianas e assumir responsabilidades. A relação intricada entre mães, avós e filhos, juntamente com a falta de estímulo para enfrentar desafios desde a infância, contribuem para a formação de adultos que enfrentam obstáculos significativos ao buscar autonomia e maturidade.


A Falta de Estímulo para Lidar com Frustrações e Implicações na Educação 

Outra hipótese abordada refere-se à falta de estímulo durante a infância para lidar com frustrações. A autora sugere que as mães, sobrecarregadas com múltiplas responsabilidades e pressionadas por uma sociedade de ritmo acelerado, podem optar por fornecer soluções rápidas, impedindo o desenvolvimento do pensamento crítico e da capacidade de lidar com desafios.

As mães, sobrecarregadas com inúmeras responsabilidades em um mundo que exige pressa incessante, talvez não permitam que seus filhos desenvolvam autonomia intelectual. Devido à sua vasta experiência, muitas vezes, elas fornecem soluções imediatas, ditando o como e o quando. Esse comportamento impede que a criança compreenda o processo de pensar autonomamente, aprender com tentativas e erros, e explorar diferentes abordagens para resolver problemas. A falta de paciência da mãe para permitir esse processo, aliada à imposição de uma solução rápida, resulta não apenas na supressão da capacidade de pensar da criança, mas também na ausência de estímulo para enfrentar a frustração decorrente de possíveis insucessos.

Consequentemente, nos deparamos com mães que não sabem lidar com as frustrações dos filhos, seja porque não experimentaram isso ou porque não dispõem de tempo para enfrentar essas situações. Quando a criança ingressa na escola, onde as cobranças se manifestam de várias formas, a falta de preparo para lidar com essas pressões se torna evidente. Para evitar o desconforto que as frustrações poderiam causar aos filhos, os pais pressionam a escola a amenizar as demandas. Em resposta, as instituições de ensino, muitas vezes visando manter sua clientela, acabam cedendo e negligenciando a necessária ênfase em avaliações, provas e prazos.

Na transição para a faculdade, a suposta liberdade de pensamento que se espera dos estudantes não é correspondida pela realidade. A falta de preparo durante os anos anteriores torna-se evidente, pois esses jovens adultos chegam despreparados para lidar com as demandas acadêmicas e, posteriormente, para ingressar no mercado de trabalho.


Implicações na Transição para a Vida Adulta 

A influência dessas dinâmicas familiares e da falta de estímulo para enfrentar desafios se reflete no desempenho acadêmico e na transição para a vida adulta. A resistência dos jovens adultos em lidar com cobranças na escola, a pressão dos pais para minimizar a frustração dos filhos e a subsequente adaptação inadequada ao ambiente acadêmico e profissional são discutidas.

O resultado desse ciclo é a manifestação de jovens adultos que se revelam incapazes de manter empregos, pois não compreendem o conceito de obrigações ou simplesmente optam por ignorá-lo. Além disso, eles demonstram incapacidade de assumir responsabilidades e resistem a críticas, sustentando uma visão de perfeição frequentemente associada ao título que antes era "filhinho da mamãe" ouso dizer que hoje seriam os  "netinho da vovó". A falta de discernimento para reconhecer a necessidade de tarefas comuns, como a limpeza do ambiente, evidencia uma desconexão com as responsabilidades cotidianas, uma realidade diferente da vivenciada na casa da avó, onde essas atividades eram realizadas por outros membros da família ou ajudantes domésticos, enquanto o "netinho da vovó" permanecia intocado por tais obrigações.


**Considerações sobre o Futuro:

** À medida que esses jovens adultos entram no mercado de trabalho, torna-se evidente uma falta de preparação para enfrentar as demandas da vida adulta. Este fenômeno, muitas vezes descrito como "jovens adultos idiotas funcionais", ilustra a incapacidade de manter empregos e a resistência à ideia de obrigações e responsabilidades.

Conclusão

Em última análise, a fragilidade observada nos jovens adultos contemporâneos parece ter raízes profundas em dinâmicas familiares complexas e em uma falta de estímulos adequados durante o desenvolvimento. A abordagem psicanalítica fornece uma lente valiosa para entender esses padrões comportamentais, destacando a importância de intervenções que promovam a autonomia e a capacidade de lidar com frustrações desde tenra idade. O reconhecimento desses padrões é crucial para o desenvolvimento de estratégias eficazes que capacitam os jovens adultos a enfrentar os desafios da vida de maneira mais resiliente e responsável.